19 January 2008

Férias e Noites Brancas

Por que brancas? Será devido à neve da Rússia? Ele era russo, não era? Ele quem? Dostoiévski! Dostoiévski? Você leu Dostoievski? Aham!

Pois é, é verdade. E foi uma surpresa. Noites brancas é um livro que se lê em poucas horas (são apenas 82 páginas, inclusas as ilustrações) e que é quase todo um diálogo em linguagem simples. O nome do autor já assusta e a dita complexidade de seus temas também. Portanto, começar por esta obra leve, agradável e romântica do início de sua carreira foi uma escolha sensata.

As noites brancas são aquelas do verão de São Petersburgo, nas quais o sol não se põe totalmente, deixando uma claridade fantasmagórica. Em uma dessas noites, um homem que se define como um sonhador, conhece uma moça. Ela, jovem e humilde, chorava. Mesmo com um aperto no coração, nosso protagonista censura a si mesmo e não consegue lhe dirigir uma palavra de conforto. Mas, por uma ajuda do destino, ao seguir caminhando do outro lado da rua, um homem de aparência duvidosa se aproxima da jovem. E o sonhador protege a dama das ameaças da noite são petersburguense.

Essa foi a primeira das quatro noites brancas em que os dois se encontraram. Nasce entre eles uma amizade profunda, como se se conhecessem de longa data. Ele, eternamente grato por a moça não tê-lo rejeitado de cara, como outras o fariam. Ela, feliz por ter alguém que a aconselhasse e escutasse seus lamentos amorosos. Ele tinha a robustez das palavras, ela, a simplicidade. E talvez seja essa sua simplicidade o que lhe permite expressar com tamanha exatidão coisas que todos nós alguma vez já sentimos: “...por que nós todos não somos como irmãos? Por que parece sempre que até o melhor dos homens esconde algo do outro e se cala diante dele? Por que não dizer logo, diretamente, o que está no coração, se sabemos que não serão palavras ao vento? Mas todos aparentam ser mais duros do que realmente são, é como se todos temessem ofender seus sentimentos ao expressa-los muito depressa...”.

Esse romance, aparentemente simples, me fez refletir sobre o amor e suas contradições. Como ele pode causar a maior alegria que se pode sentir em um momento e, em outro, a maior das tristezas. E como este sentimento, que nos parece tão puro e altruísta, é tantas vezes egoísta.

Estarei já preparada para Crime e castigo e Os irmãos Karamazov?

Noites Brancas foi publicado em 1848, na contracorrente de sua época, que privilegiava o Realismo. Fiodor Dostoiévski nasceu em Moscou a 1821. Reconhecido pela crítica e por leitores de todo o mundo como um dos maiores autores russo de todos os tempo, falece em 1881.

1 comment:

Marcelo Andreguetti said...

oi Lu.
é o Marcelo aqui. Gostei do teu blog! Tem coisinhas bacanas.
Eu, como fã de Dostoiévski, achei bacana essa sua percepção de Noites Brancas.
Já liu o livro e vi o filme (com o Mastroianni no papel principal, aliás) e acho muito legal como o Dostoiévski explora as contradições do amor aqui. Eu nunca vou perdoar a moça que no final o abandona por algo que, ao meu ver, é pura ilusão, alimentada por uma coisa bem adolescente. Mas é isso que faz do livro fascinante... exatamente essa demonstração da crueldade que pode haver no amor.
Se não assistiu o filme, procure vê-lo. O livro é bem melhor, mas sempre acho bacana observar a história sobre outras perspectivas.

Beijo, Lu.