30 September 2008

O que é a estética hoje?

Esse foi o tema da palestra da filósofa Márcia Tiburi, no último dia 25/09. O evento fez parte da Semana ousada de artes, promovida pela UFSC e pela Udesc. O assunto me atraiu por já ter estudado estética em algumas disciplinas universitárias, mas confesso que estava com medo de ouvir uma filósofa falar. Para meu alívio, Tiburi usou exemplos e linguagem cotidianos e, apesar de não falar nada de tão extraordinário, nos fez refletir sobre coisas banais do dia-a-dia. Vivemos em espaços organizados e cultuamos a decoração de interiores.
Logo no início, Tiburi já alertou para a simplicidade de seu discurso ao dizer que ficaria em um local chamado de pré-filosofia, onde na lama de sua ignorância iria questionar "para que serve a estética hoje?". A filósofa põe em dúvida a utilidade da estética e afirma que existe um abismo entre o espectador e a arte. "Nos encontramos com uma obra de arte e não sabemos o que fazer com ela", afirma.
Os críticos poderiam ser os meio-campistas entre artista e espectadores. Porém, o que acontece, é que essas figuras são muitas vezes simplesmente jornalistas que se interessam pelo assunto. "Se disserem onde a obra está errada, apontarem um defeito, estarão dizendo algo importante para sua carreira", critica Tiburi. Se os críticos acabam sitiando o território entre artista e espectador, ela questiona a função dos críticos e aponta como alternativa que eles desistam. Uma saída menos radical seria promover a interdisciplinaridade entre críticos e estudiosos da estética.
Para responder à pergunta inicial, Márcia lança a hipótese da estética como aquilo que deve ligar a arte e a vida.

27 September 2008

Sobre a natureza humana

"O romance não pode, portanto, ser censurado por seu fascínio pelos encontros misteriosos dos acasos[...], mas podemos, com razão, censurar o homem por ser cego a esses acasos na vida quotidiana, privando assim a vida da sua dimensão de beleza."

"Para que um amor seja inesquecível, é preciso que os acasos se juntem desde o primeiro instante."

"[...] é mais ou menos assim o instante em que nasce o amor: a mulher não resiste à voz que chama sua alma amedrontada; o homem não resiste à mulher cuja alma se torna atenta à sua voz."

"Não estava certo de ter agido bem, mas estava certo de ter agido como queria."

"[...] a vida humana só acontece uma vez e não podemos jamais verificar qual seria a boa ou a má decisão, porque, em todas as situações, só podemos decidir uma vez. Não nos é dado uma segunda, uma terceira ou uma quarta vidas para que possamos comparar decisões diferentes."

"Todos nós temos a necessidade de ser olhados. Podemos ser classificados em quatro categorias, segundo o tipo de olhar sob o qual queremos viver. A primeira procura o olhar de um número infinito de pessoas anônimas, em outras palavras, o olhar do público. [...] Na segunda categoria estão aqueles que não podem viver sem ser o foco de numerosos olhos familiares. São os incansáveis organizadores de coquetéis e jantares, mais felizes do que os da primeira categoria, que quando perdem seu público imaginam que a luz se apagou na sala de suas vidas. [...] As pessoas da segunda categoria sempre conseguem arrumar quem as olhe. [...] Vem em seguida a terceira categoria, aqueles que têm a necessidade de viver sob o olhar do ser amado. [...] Basta que os olhos do ser amado se fechem para que a sala fique mergulhada na escuridão. [...] Por fim, existe a quarta categoria, a mais rara, a daqueles que vivem sob o olhar imaginário dos ausentes. São os sonhadores."

"[...] as perguntas que atormentam os casais humanos: será que ele me ama? será que gosta mais de mim do que eu dele? terá gostado de alguém mais do que de mim? Todas essas perguntas que interrogam o amor, o avaliam, o investigam, o examinam, será que não ameaçam destruí-lo no próprio embrião? Se somos incapazes de amar, talvez seja porque desejamos ser amados, quer dizer, queremos alguma coisa do outro (o amor), em vez de chegar a ele sem reivindicações, desejando apenas sua simples presença."

Os trechos foram retirados do livro A insustentável leveza do ser, de Milan Kundera