16 February 2009

Pequenos pinta-cuias

Crianças que marcaram o Projeto Rondon, em Monte Alegre, Pará.


Anderson, 4 anos: foi com o pai no primeiro dia do curso de atualização para jornalistas. Dei a ele folhas do meu bloco e caneta. Saiu o desenho de uma moto com várias cabeças, uma sobre a outra: o pai, a mãe, o filho, todos no mesmo veículo. Perguntou por que meu cabelo era dessa cor e quando eu disse que era loira: “Onde você pintou?”.


Monique, 6 anos, Comunidade Planalto: mulata, cabelos trançados, pinta sobre a boca. Cópia idêntica da mãe - professora da creche.


Fabiana, 10 anos, Comunidade Curitanfã: desenhou a bandeira do Pará (muitas crianças a desenharam ao longo dos dias, todos parecem conhecê-la bem). Disse que gostou muito de mim. Queria que eu não fosse embora e que fosse dar um passeio no bairro com ela.


Ranielson, 10 anos, Comunidade Curitanfã: no final da manhã, a Joana perguntou a ele o que tinha visto de diferente naquele dia. Pensou um pouco, apontou pra mim e disse: “Ela”.


Camila, 3 anos, Comunidade Curitanfã: morena de cachinhos. Veio toda arrumada, de saia jeans e presilhas no cabelo. Bem calma, ficou um bom tempo no meu colo. Talita tirou fotos lindas.


Frederico, 2 anos, Comunidade Curuxi: loirinho dos cachinhos – uma raridade por aqui! Estava só de bermuda e chegou ao ginásio com seus vários irmãos. Não parava de pular.


Monique, 11 anos, Comunidade Airi: Sabia onde fica Santa Catarina no mapa e algumas coisas em inglês. Disse que eu parecia com a Dulce Maria – cantora do Rebelde – por causa do meu sorriso (ela é morena!). Detalhe que a Monique queimou os CDs do grupo porque disseram pra ela que eles têm pacto com o diabo. Andou de bicicleta, tirou fotos com o celular e nos levou para molhar o pé no igarapé.


Elenilson, 11 anos, Comunidade Airi: brincava de futebol no quintal. Garrafas de vidro eram as traves e frascos de esmalte, shampoo e perfume, os jogadores, que "chutavam" uma bolinha de ping-pong.


Giovana, 6 anos, filha da Márcia – cozinheira da Comara: ficou feliz quando a Ju e eu a deixamos mexer no computador pela primeira vez. Digitou seu nome, o da mãe e das amiguinhas. Chupou mangas com a gente, presente do caseiro Benonir.

01 February 2009

Calor é pouco

A algumas centenas de quilômetros do Equador, Monte Alegre não poderia deixar de ser quente. Alguns rondonistas dizem que esperavam mais calor. Mas, para mim, a temperatura está de bom tamanho. Suamos o tempo todo, principalmente em uma tarde com o sol ardente que já anunciava uma tempestade ou dançando tecnobrega na boate La Barca. Tomamos três banhos gelados por dia, dos quais já saímos pingando de suor outra vez. Mas não é só esse tipo de calor que sentimos por aqui. Nunca vi uma gente tão hospitaleira, bem-humorada e orgulhosa de sua cidade.

Foi impressionante ver e ouvir, na reunião de abertura do projeto, todos cantando com gosto o hino montealegrense. A letra fala de um clima suave e ameno, um pouco contraditório com a realidade local. As pessoas aqui são mais do que calorosas. Adriana, da sorveteria, nos recebe com um sorriso todos os dias e nos faz feliz ao anunciar um sabor novo: cupuaçu, buriti, tapioca, castanha... Dona Claudete, do restaurante Sabor e Cheiro da Amazônia, diz que é um privilégio essa troca com gente de fora e nos ensinou a fazer bolinho de Piracuí (farinha feita do peixe Acari seco). Aliás, hoje fomos convidados para a sua despedida no almoço.

No banquete, servido na paróquia, estavam também a secretária Conceição e o engenheiro Nelsí, que de tão interessados em ter contato com os rondonistas deram um jeito de participar de nosso curso de atualização para jornalistas, mesmo nada tendo a ver com a área. Seu Nelsí se ofereceu para levar-nos como guia à Serra da Lua, onde se vêem as famosas inscrições rupestres da cidade. Conceição nos prometeu tapioca com leite condensado para a merenda da noite de segunda-feira, quando daremos continuidade ao curso.

Somos sempre recebidos com sorrisos e curiosidade. Por onde passam os rondonistas, logo se escuta um "Boa tarde" saindo de algum canto. Quando nos apresentamos, todos já sabem quem somos. Isso porque aqui não existe quem não ouça a rádio Mirante, onde demos entrevista e somos sempre pauta. Na loja de doces, a moça fez questão de não me deixar pagar quando pedi duas balas. Na papelaria onde compramos papel para nossas ações, os funcionários quiseram saber sobre a finalidade do Projeto Rondon e nos deram as boas-vindas. Depois das oficinas, os professores vêm nos agradecer com os olhos brilhando. As crianças, que se divertem quando contamos que nunca tínhamos comido cupuaçu ou visto um boto, nos abraçam, beijam e nos acham a coisa mais linda do mundo.

Seu Nelsí nos contou hoje que não existe fome por aqui. Mesmo nas comunidades mais carentes, quando alguém passa por dificuldades os vizinhos ajudam. "Se não têm condições, pedem para os outros ajudarem", conta. Ele diz que que quando alguém pede uma esmola e ele vê que a pessoa está realmente precisando, vai ao supermercado e compra farinha, leite, feijão, 1 kg de carne. Em meia horinha no supermercado, faz a sua parte.

Talvez fosse bom que um pouco desse calor soprasse para o sul do Brasil (sem o suadouro, é claro!). De fato, como disse nossa rondonista Ju Sakae, é fácil entender porque esse Monte se chama Alegre.


PS: Mais um pouco de calor ontem à noite: tivemos um show particular do grupo Suingue Show. Na varanda do nosso hotel, bailarinos e bailarinas rebolaram freneticamente em suas roupas e movimentos sensuais ao som de tecnobrega. Depois, ainda nos ensinaram alguns passos. Divertidíssimo!