19 March 2009

Flashes de Monte Alegre

O trabalho dos rondonistas da UFSC em Monte Alegre, Pará, durou de 27 de janeiro a 6 de fevereiro. Dez dias parece pouco para conhecer bem uma cidade em que 40 dos seus 60 mil habitantes vivem em comunidades rurais afastadas. Mas, de casa em casa, foram deixadas marcas, como a de Maria Davina, Elenilson e Dona Xavier.

Dia 31, sábado, moradores da comunidade Airi demonstrariam aos rondonistas seu tradicional folião realizado em junho, na festividade de São João Batista. Mas no Airi, para ir de uma casa a outra, são quilômetros de terra, daquela bem vermelha.
Para que não caminhassem no sol e na poeira, o ônibus da prefeitura buscou os músicos, na beira da estrada ou em casa.

Uma das paradas, foi na residência de Maria Davina da Silva. Aos 69 anos, rugas bem marcadas na pele negra e alguns dentes faltando, a aposentada sempre viveu da roça. Mãe de 10 filhos, oito vivos, Maria mora com quatro deles. No quintal de terra batida, a família conversa e um panelão cozinha a galinhada. Maria nos dá a mão e diz: “Boralá sentar pra cumê cum a gente?”.

Na casa de madeira, pela porta aberta se vêem em frente à TV três dos sete netos que moram com a avó. Na testa de Edmilson - o mais novo - bem acima dos olhos de caboclo levemente puxados, de um lado se vê um arranhão, do outro, uma mosca insiste em pousar. Fora da casa, o irmão Elenilson, 11 anos, brinca de futebol. Garrafas de vidro são as traves e frascos de esmalte e shampoo, os jogadores, que "chutam" uma bolinha. “Peguei as coisas pela casa ou iam pro lixo. Às vezes meus irmão jogam, mas num ligo de jogar sozinho.”

Outra comunidade visitada, em 2 de fevereiro, foi a Canp. Lá vive Xavier dos Santos, 2 anos mais velha que Maria Davina. Passado o primeiro cômodo, onde panelas de alumínio brilham na parede, Dona Xavier está deitada sobre o lado esquerdo do corpo. Todo ele está paralisado há dois dias, quando sofreu um AVC. Xavier se emociona com a conversa e deixa escapar uma lágrima. “A banda que adormeceu num quer acordar e a que tá acordada num quer morrer”, diz aquela que, mesmo triste, não deixa de fazer piada.